quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Artigo Científico - "Discalculia: uma interface entre a Medicina e a Educação".

 

Este artigo revela, em resumo, a seguinte proposta:

 "Entre as desordens cognitivas, manifestadas durante o período educacional, destacam-se os problemas associados com o cálculo, que constituem a discalculia. Pode-se conceituá-la como incapacidade de aprendizagem específica que afeta a aquisição da habilidade aritmética de crianças. A presente comunicação propõe, com base na literatura médica pertinente, que trabalhos interdisciplinares e multi profissionais, visando melhorias de desempenho escolar, busquem intervenções com práticas educativas, destacando-se, em seu interior, as lúdico-recreacionais."

A Discalculia entre a Medicina e a Educação:


Quanto a discalculia (ou desenvolvimento de discalculia - DD), trata-se da “incapacidade de aprendizagem específica que afeta a aquisição da habilidade da aritmética em crianças”. É um agravo cerebral com predisposição genética, mas é obstáculo cognitivo comum, mais frequente em mulheres que nos homens. Sua predominância no sexo feminino pode refletir somente a grande vulnerabilidade a influência ambiental ou o acréscimo da predisposição biológica. Geralmente, encontra-se presente nas perturbações neurológicas, tais como o transtorno de déficit de atenção (TDAH), desordem de linguagem, epilepsia, deficiência mental e algumas síndromes.

Na população escolar tem prevalência de 3% a 6%, frequência similar à da dislexia e TDAH. Porém, mesmo que seja diagnosticada após longo prazo, o citado autor indica ser uma incapacidade estável de aprendizagem, persistindo, em menor período, em quase metade das crianças afetadas. Cogita-se que esta característica decorra do fato de sua gênese assentar-se na existência de substratos anatômicos específicos. Nesse sentido, através de neuroimagem em humanos, observa-se que a “habilidade aritmética humana tem um substrato cerebral palpável. O sulco intrapariental humano é ativado em todas as tarefas numéricas e pode hospedar uma representação de quantidade central amodal”.

Áreas do córtex frontal inferior e pré-central também são ativadas quando empenham cálculo mental. As patologias neste sistema, que acarretam acalculia em adultos ou o DD em crianças, estão começando a ser entendidas, proporcionando bases para encaminhar intervenções no cérebro.

As origens do DD, ao que alguns estudos indicam, podem ser de natureza genética, o que prejudicaria funções cruciais da habilidade aritmética nesta região. O defeito na área têmporo-parietal esquerda próximo do giro angular, com diferentes decréscimos no N-acetil-aspartame e creatina, sustenta a hipótese de que, tanto o DD como a aquisição da acalculia estão associados com lesões na porção posterior do hemisfério cerebral esquerdo.


Ressalta-se que escolares que possuem dificuldades em aritmética apresentam mais problemas de atenção que outras crianças. No mesmo grupo populacional, sabe-se que a disfunção cerebral mínima representa o tipo mais comum de desordem neuropsicológica na infância, com baixo desenvolvimento e disfunções em regiões do hemisfério cerebral, definidas manifestando desordens na conversa, movimento, disgrafia, dislexia, discalculia e TDAH. Ou seja, aqueles que cursam com estes sintomas têm maior probabilidade de apresentar discalculia.  

Em um volumoso trabalho de análise da distinção usual entre acalculia primária e secundária e diferentes tipos dos distúrbios do cálculo: propõem, em decorrência, que a capacidade de calcular retrata “habilidades multi fatoriais, incluindo a verbal, espacial, de memória, conhecimento corporal e habilidades de finalidade executiva".  

Relacionando Atividade Física e Discalculia:


A atividade física (AF) regular ocasiona vários benefícios aos índices de qualidade de vida, relativos aos fatores psicológicos, mentais, cognitivos e fisiológicos. Os efeitos benéficos de exercícios crônicos nas funções de memória, inteligência e tempo de reação são pequenos, mas consistentes. A prática ocasiona, então, habilidades que permitem à pessoa controlar sua vida e possibilitar opções de aprendizagem e trabalho, sendo o exercício uma chave componente deste processo.

Os portadores de distúrbios cognitivos podem, igualmente, se beneficiar de modo significativo, por meio da realização de experiências motoras adequadas oferecidas, dado que o desenvolvimento intelectual tem grande influência do movimento.

Neste sentido, em trabalho com crianças de quatro sete anos, há relatos da importância dos jogos, pois são nas situações propostas por estes que muitas aprendizagens ocorrem de forma não consciente.

Os jogos, enquanto atividades lúdicas/recreacionais, podem ser usados com objetivos diferentes tanto por professores de Educação Física como de Matemática. Veja-se o caso do xadrez: modalidade desportiva, exige raciocínio lógico-matemático durante a execução.

De fato, nesse sentido, hoje, a Educação Física é “mais que moldar a estrutura física do aluno. Ela deve contribuir para a atividade intelectual e para a formação do cidadão”, tendo como um dos objetivos a “interação com os colegas de modo cooperativo, aprendendo a trabalhar em conjunto na busca de soluções”.


Os jogos, assim como as brincadeiras, permitem a comunicação, o questionamento, a explicação e a confrontação do “seu ponto de vista com os das outras crianças”, sendo instrumentos para elas se relacionarem com o mundo e recriarem as relações com aqueles com que convive no grupo social. Desse modo, estimula e faz evoluir “aspectos socioafetivo, motor, sensorial e cognitivo”.

O jogo “pode trazer à tona questões inconscientes e medos recalcados, facilitando o autoconhecimento das próprias emoções e do mundo interior de cada pessoa” e, assim, as relações sociais com os outros são sempre estabelecidas durante o jogo, de fundamental importância para o desenvolvimento do indivíduo.

Na Matemática os jogos podem ser “explorados com a total aprovação dos alunos. As avaliações e trabalhos realizados confirmam a assimilação dos conteúdos” e, por consequência, o desenvolvimento das habilidades matemáticas propostas. 


Em síntese, o jogo, meio utilizado para a integração por excelência, identifica-se como alternativa possível de uso, tanto por professores de Matemática como de Educação Física para escolares com discalculia para que, assim, estes possam operar melhor suas capacidades aritméticas. 


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