quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A ritalina e os riscos de um 'genocídio do futuro'.

Para uns, ela é uma droga perversa. 

Para outros, a 'tábua de salvação'. 

Texto de Isabela Gardenal, publicado em 05/08/2013 no Portal UNICAMP.

Trata-se da ritalina, o metilfenidato, da família das anfetaminas, prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Teria o objetivo de melhorar a concentração, diminuir o cansaço e acumular mais informação em menos tempo. Esse fármaco desapareceu das prateleiras brasileiras há poucos meses (e já começou a voltar), trazendo instabilidade principalmente aos pais, pela incerteza do consumo pelos filhos. 

Crédito da Imagem: Antônio Scarpinetti
Ocorre que essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de ação da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um narcótico. No caso de consumo pela criança, que tem seu organismo ainda em fase de formação, a ritalina vem sendo indicada de maneira indiscriminada, sem o devido rigor no diagnóstico. Tanto que, no momento, o país se desponta na segunda posição mundial de consumo da droga, figurando apenas atrás dos Estados Unidos. Como acontece com boa parte dos medicamentos da família das anfetaminas, a ritalina 'chafurda' a ilegalidade, com jovens procurando a euforia química e o emagrecimento sem dispor de receita médica. Fala-se muito que, se não fizer o tratamento com a ritalina, o paciente se tornará um delinquente. "Mas nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona", critica a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro. Mais vale a orientação familiar”, encoraja a pediatra, que concedeu entrevista, a seguir, ao Portal Unicamp.

Portal Unicamp – Há pouco tempo, faltou distribuição de ritalina no mercado brasileiro. Como essa lacuna foi sentida?

Cida Moysés – Não sabemos verdadeiramente o motivo de faltar o medicamento, mas isso criou uma instabilidade nas pessoas. As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento. Isso foi sentido de um modo muito mais intenso do que com outros medicamentos que de fato demonstram que sua interrupção seria mais complicada que a ritalina. São os casos dos medicamentos para diabetes ou hipertensão. Apesar de não conhecermos a razão dessa falta do medicamento, sabemos das estratégias de mercado para outros produtos como o açúcar e o café que faltam no supermercado e, por isso, também para os medicamentos que faltam na farmácia. Quando somem das prateleiras, eles criam angústia. No entanto, em geral, retornam mais tarde. E mais caros, é óbvio.

Portal Unicamp – O que é a ritalina? Como ela age?

Cida Moysés – A ritalina, assim como o concerta (que tem a mesma substância da ritalina – o metilfenidato, é um estimulante do sistema nervoso central - SNC), tem o mesmo mecanismo de ação das anfetaminas e da cocaína, bem como de qualquer outro estimulante. Ela aumenta a concentração de dopaminas (neurotransmissor associado ao prazer) nas sinapses, mas não em níveis fisiológicos. É certo que os prazeres da vida também fazem elevar um pouco a dopamina, porém durante um pequeno período de tempo. Contudo, o metilfenidato aumenta muito mais. Assim, os prazeres da vida não conseguem competir com essa elevação. A única coisa que dá prazer, que acalma, é mais um outro comprimido de metilfenidato, de anfetamina. Esse é o mecanismo clássico da dependência química. É também o que faz a cocaína.

Portal Unicamp – Quando a ritalina é indicada?

Cida Moysés – Para quem indica, é nos casos com diagnóstico de TDAH. Eu não indico. Para esses médicos, entendo que é necessário traçar uma relação custo-benefício: quanto ganho com esse tratamento em termos de vantagens e de desvantagens. Sabe-se que é uma droga que possui inúmeras reações adversas, como qualquer droga psicoativa. Considero extremamente complicado usar uma droga com essas reações para melhorar o comportamento de uma criança. Qual é o preço disso?

Portal Unicamp – Quais são os sintomas principais?

Cida Moysés – As reações adversas estão em todo o organismo e, no sistema nervoso central então, são inúmeras. Isso é mencionado em qualquer livro de Farmacologia. A lista de sintomas é enorme. Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA). São relatos espontâneos feitos por médicos. Não é algo desprezível. Além disso, aparecem outros sintomas como cefaleia, tontura e efeito zombie like, em que a pessoa fica quimicamente contida em si mesma.

Portal Unicamp – Não é pouca coisa...

Cida Moysés – Ocorre que isso não é efeito terapêutico. É reação adversa, sinal de toxicidade. Além disso, no sistema cardiovascular é possível ter hipertensão, taquicardia, arritmia e até parada cardíaca. No sistema gastrointestinal, quem já tomou remédio para emagrecer conhece bem essas reações: boca seca, falta de apetite, dor no estômago. A droga interfere em todo o sistema endócrino, que interfere na hipófise. Altera a secreção de hormônios sexuais e diminui a secreção do hormônio de crescimento. Logo, as crianças ficam mais baixas e também essa droga age no peso. Verificando tudo isso, a relação de custo-benefício não vale a pena. Não indico metilfenidato para as crianças. Se não indico para um neto, uma criança da família, não indico para uma outra criança.

Portal Unicamp – Criança não comportada é um problema social?

Cida Moysés – Está se tornando. E não vai se resolver colocando um diagnóstico de uma doença neurológica ou neuropsiquiátrica e administrando um psicotrópico para uma criança.

Portal Unicamp – Qual seria o tratamento então?

Cida Moysés – Um levantamento de 2011, publicado pelo equivalente ao Ministério da Saúde nos Estados Unidos, envolve uma pesquisa feita pelo Centro de Medicina baseado em Evidências da Universidade de McMaster, no Canadá, que analisou todas as publicações de 1980 a 2010 sobre o tratamento de TDAH. O primeiro dado interessante foi que, dos dez mil trabalhos que provaram que o metilfenidato funciona, é seguro, apenas 12 foram considerados publicações científicas. Todo o resto foi descartado por não preencher os critérios de cientificidade. Esse é um aspecto muito importante. Dos 12 trabalhos restantes, o que eles encontraram foi que a orientação familiar tem alta evidência de bons resultados, e o medicamento tem baixa evidência. Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la como lidar com essa criança. Além disso, os dados dessa pesquisa sobre rendimento escolar foram inconclusivos, assim como não há nenhum dado que permita dizer que melhora o prognóstico em longo prazo. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada.

Portal Unicamp – Dê um exemplo.

Cida Moysés – Quando se fala em 5% a 10% de pessoas com determinado problema, o conhecimento médico exige que se assuma que isso é um produto social, e não uma doença inata, neurológica, como seria o TDAH, e muito menos genética. Não dá para pensar em porcentagens. Em Medicina, sobre doenças desse tipo fala-se em 1 para 100 mil ou em 1 para 1 milhão. Então, é algo socialmente que vem se produzindo. Quando digo isso, de novo, não estou dizendo que a família é a culpada. Pelo contrário, é um modo de viver que estamos produzindo.

Portal Unicamp – Quem está sendo medicado?

Cida Moysés – São as crianças questionadoras (que não se submetem facilmente às regras) e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de 1.000 anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Quando impedimos isso quimicamente, segundo a frase de um psiquiatra uruguaio, “a gente corre o risco de estar fazendo um genocídio do futuro”.  Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível.

Portal Unicamp – Na França, o TDAH é praticamente zero. A que se deve isso?

Cida Moysés – Isso se deve a valores culturais, fundamentalmente.

Portal Unicamp – Isso em países desenvolvidos?

Cida Moysés – Não necessariamente. Ninguém pode dizer que os EUA não sejam desenvolvidos. Não obstante, o país é o primeiro grande consumidor mundial da ritalina, da onde irradia tudo. O Brasil vem logo em seguida, como segundo consumidor mundial. Ao contrário do que se propaga, de que a taxa de prevalência é a mesma em todos os lugares, isso não é verdade. Varia de 0,1% a 20%, conforme o estudo da Universidade McMaster do Canadá. Varia de acordo com valores culturais, região geográfica, época e conforme o profissional que está avaliando. Há trabalhos que mostram, por exemplo, que médicas diagnosticam mais TDAH em meninos e que médicos mais em meninas, provavelmente por uma falta de identificação. Alguns trabalhos mostram que crianças pobres têm mais chances de receber o diagnóstico. Estamos falando de uma Era dos Transtornos – uma epidemia dos diagnósticos. A França tem uma resistência muito grande a isso por uma questão de formação de médicos, de valores da sociedade. Lá eles têm um movimento muito grande desencadeado por médicos, muitos deles psiquiatras, que se chama collectif pas de 0 de conduite. Esse movimento surgiu como reação à lei que propunha avaliar o comportamento de todas as crianças até três anos de idade. Era um modelo que pegava especificamente pobres e imigrantes. O movimento conseguiu derrubar tal lei.

Portal Unicamp – Existe no Brasil alternativa diferente da medicalização, da visão organicista?

Cida Moysés – Temos uma articulação mais recente que é o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o qual eu e o Departamento de Pediatria da FCM-Unicamp integramos. O nosso Departamento é o seu membro fundador, tendo mais de 40 entidades acadêmicas profissionais e mais de 3.000 pessoas físicas no Brasil, que estão buscando difundir as críticas que existem na literatura científica sobre isso. Além do mais, procuramos construir outros modos de acolher e de atender as necessidades das famílias dos jovens que vivenciam e sofrem com esses processos de medicalização. Em novembro, a Unicamp promoverá um Fórum Permanente sobre Medicalização da Vida, que irá abordar essas questões de medicalização e de patologização da vida. Todos estão convidados.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Resolução da ANS aumenta a quantidade de atendimentos em diversas especialidades de tratamentos fonoaudiológicos

A partir de 2014 aumenta número de atendimentos fonoaudiólogicos cobertos por planos de saúde.

 Fonte: Conselho Federal de Fonoaudiologia
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha e o diretor-presidente da ANS, André Longo anunciaram ontem (21), novas coberturas a procedimentos de saúde, acesso a 37 medicamentos para tratamento de diferentes tipos de câncer, além de 50 novos exames, consultas e cirurgias que serão cobertas pelos Planos de Saúde a partir de janeiro de 2014. O anúncio é resultado de Consulta Pública amplamente divulgada pelo CFFa.  

O objetivo do CFFa é que, futuramente, não haja restrição para o número de consultas em tratamento. "Essa é a condição ideal e vamos continuar dialogando para tornar isso realidade", finaliza. 

Especificamente para a Fonoaudiologia, o que muda é o número de consultas/sessões. Veja no quadro abaixo, o que entrará em vigor a partir de 2014:


Uma conquista e tanto para a categoria, segundo analisa a presidente da Comissão de Saúde do Conselho Federal de Fonoaudiologia, Maria Cristina Borges de Oliveira. "Nossa representação na ANS acompanhou todo o processo. Hoje colhemos o fruto de um longo trabalho que vai beneficiar diretamente todos os fonoaudiólogos e também os cidadãos usuários de planos de saúde ", comemora ao passo que planeja as próximas ações para melhorar ainda mais esse quadro.

A conselheira membro da Comissão de Saúde, Viviane Fontes, participou das reuniões da ANS e das negociações em relação aos procedimentos fonoaudiológicos. Ela salienta a importância do acompanhamento dessas decisões e da participação do profissional e da sociedade nas consultas públicas. Segundo a conselheira, nesse caso específico, o resultado da consulta pública foi um argumento irrefutável dos anseios dos usuários. "Além disso, aspectos científicos relacionados a tempo de atendimento fonoaudiológico foram fundamentais para convencimento dos gestores da ANS", complementa.

De acordo com os dados publicados pelo Ministério da Saúde essa Consulta Pública teve recorde de participação entre as 53 consultas já realizadas pela ANS. Foram 7.340 contribuições, sendo que 50% delas eram de consumidores.

A resolução normativa foi publicada no dia 22/10/2013, no Diário Oficial da União e pode ser acessada aqui.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Dúvidas Frequentes sobre Fonoaudiologia Educacional

Respostas para Dúvidas Frequentes na Área de Fonoaudiologia Educacional - Primeira Parte.

Conteúdo retirado do material disponibilizado pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia,
 por meio do Departamento de Fonoaudiologia Educacional.


A comunicação humana é um elemento indispensável para que haja um bom desenvolvimento e aprendizado.O fonoaudiólogo é o profissional que possui formação técnica e científica, além da habilitação legal (Lei 6.965/1981), para cuidar de todos os aspectos relacionados à comunicação humana.Fonoaudiologia educacional é uma das áreas de especialização reconhecida pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (Resolução 382/2010). 


Inserido no contexto educacional, o fonoaudiólogo assume o papel de educador e passa a ser cor responsável, junto com os demais profissionais que devem compor a equipe multidisciplinar educacional, pelo êxito no processo de ensino-aprendizagem, promovendo o pleno desenvolvimento das potencialidades comunicativas, cognitivas, afetivo-emocionais e sociais dos estudantes.

Estudos mostram que o Brasil tem um dos piores indicadores em educação. Dentre outros fatores, destaca-se um número significativo de crianças e jovens que não conseguem ser alfabetizados em virtude de problemas relacionados à comunicação ou por não se adaptarem à proposta pedagógica. Muitos desses problemas podem ser facilmente resolvidos na própria escola se a equipe educacional estiver devidamente formada e instrumentalizada.

Assim, a atuação do fonoaudiólogo educacional será determinante para promover a aprendizagem e prevenir boa parte dos problemas que podem afetá-la. 

O trabalho do Fonoaudiólogo na Educação é coisa recente?

Não, apesar de ser reconhecida como especialidade há pouco tempo, a Fonoaudiologia no Brasil surgiu para ajudar professores a solucionar problemas de crianças que não aprendiam, por possuírem alguma dificuldade de comunicação. Portanto, Fonoaudiologia e Educação têm uma relação colaborativa bastante antiga. 

O Fonoaudiólogo Educacional pode colaborar com quais níveis e modalidades de ensino?

Como a comunicação possui estreita relação com a capacidade que os indivíduos, em qualquer fase do desenvolvimento, têm para aprender, ela será necessária em qualquer situação de ensino-aprendizagem. Portanto, o fonoaudiólogo educacional pode colaborar em todos os níveis ou modalidades de ensino.
Entretanto, dada a importância que as “primeiras aprendizagens”, como a alfabetização, assumem para as “futuras aprendizagens” da criança, pois uma criança que não estiver bem alfabetizada terá dificuldades em todas as disciplinas do currículo escolar, o trabalho do fonoaudiólogo educacional torna-se decisivo na educação infantil, na educação especial e no ensino fundamental. 

 De que forma o Fonoaudiólogo Educacional pode colaborar com os temas do cotidiano escolar?

Inserido no contexto educacional, o fonoaudiólogo assume o papel de educador, sendo um importante especialista para discutir temas e dúvidas como as que serão apresentadas a seguir. 

Como o Fonoaudiólogo Educacional pode ajudar a lidar com os transtornos de aprendizagem?

O fonoaudiólogo educacional é um dos principais especialistas para orientar, junto com a equipe educacional, professores e familiares de crianças com transtornos de aprendizagem, inclusive acompanhando o andamento dos tratamentos realizados fora da escola (quando indicados). 

Toda criança que não aprende tem algum problema?

Infelizmente, dentro de nossa cultura educacional, a criança que tem dificuldades para aprender sempre é vista como tendo algum problema em nível individual, como se ela sempre fosse a culpada pelas limitações que possa apresentar. Porém, esta crença não corresponde à verdade.
Estima-se que apenas cerca de 10% das crianças possam ter algum tipo de problema intrínseco, que possa prejudicar a aprendizagem, como nos casos, por exemplo, de dislexia, discalculia, deficiência mental ou autismo. Na realidade, a maior parte das crianças que estão com dificuldades de aprendizagem podem estar refletindo problemas de outra natureza, como limitações nas oportunidades para aprender, déficits pedagógicos ou metodológicos, problemas de natureza socioeconômica e assim por diante. É importante saber distinguir os verdadeiros e os falsos problemas de aprendizagem, uma vez que eles podem se manifestar de modos semelhantes. O fonoaudiólogo educacional, juntamente com a equipe educacional, colabora com a identificação precoce dos verdadeiros problemas de aprendizagem.  

Qual o melhor método de alfabetização?

Crianças sem dificuldades mais significativas, que tenham demonstrado um bom desenvolvimento geral, e em especial de linguagem oral, que tenham tido muita oportunidade de conviver com pessoas que lêem e escrevem, que estão habituadas com leituras dirigidas para elas, e outras situações bastante favoráveis, não apresentam, de modo geral, problemas para serem alfabetizadas, qualquer que seja o método.
Por outro lado, crianças com dificuldades e ou com falta de oportunidades para vivenciar situações ricas de interação com a leitura e a escrita, serão desafiadoras para a maior parte dos métodos e para os professores que os aplicam. Porém, considerando a natureza alfabética de nossa escrita, que tem como base uma forte relação entre a fala e a escrita, mais especificamente entre os sons da fala e as letras usadas para escrever, os métodos ou abordagens fônicas têm se mostrado bastante efetivos para diminuir dificuldades na alfabetização e garantir progressos mais consistentes no processo de alfabetização.  

Como desenvolver o gosto pela leitura?

Encontramos crianças que “adoram” ler e, por outro lado um número grande de outras
que “detestam” ler. Um dos fatores fundamentais nesses tipos de sentimentos diz respeito às experiências que cada criança teve ao longo de sua vida. Aquelas crianças que, desde pequenas, vivem com adultos que lêem para elas, que as encantam com os contos e histórias que os livros trazem, assim como estimulam sua imaginação e criatividade através das leituras, são privilegiadas. O adulto que lê com prazer para levar também prazer até a criança lança mão de uma fórmula bastante eficaz para desenvolver o gosto pela leitura.
Leiam bastante para os pequenos, desde muito cedo. Permita que eles descubram os encantos das palavras que estão nos textos. Mas muito cuidado: não façam destes momentos de intensa troca afetiva entre pessoas e livros, uma atividade pedagógica, professoral, na qual a criança, obrigatoriamente tem que aprender uma porção de coisas.  

É possível identificar possíveis problemas de aprendizagem quando a criança ainda é pequena?

A identificação de problemas está diretamente ligada ao grau de dificuldades que a criança apresenta. Algumas são evidentes desde o desenvolvimento de bebê, como é o caso dos atrasos na evolução neuropsicomotora. Outras alterações podem ser mais sutis e difíceis de serem identificadas prontamente.
De qualquer modo, fiquem sempre atentos ao desenvolvimento, principalmente da linguagem da criança. Atrasos no aparecimento da linguagem falada, dificuldades para adquirir vocabulário, dificuldades para formar frases de acordo com o esperado para a idade, dificuldades com a fala (omissões e trocas de fonemas), limitações na compreensão da linguagem oral, dificuldades para dialogar, para iniciar interações, para responder para os outros, dificuldades para acompanhar as atividades típicas da idade e dificuldades para relacionar-se e brincar, podem ser indicativos de problemas de aprendizagem e desenvolvimento. Sempre que houver uma suspeita de problemas de comunicação, o fonoaudiólogo deve ser procurado. 

Problemas de linguagem oral podem prejudicar o aprendizado da escrita?

Crianças que apresentam uma história de problemas na linguagem oral, como atrasos, dificuldades de compreensão, de expressão das ideias e também de fala, tendem em geral, a projetar tais dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita, o que pode prejudicar o processo de decodificação e compreensão leitora, de elaboração de textos e também da ortografia. Dai a importância de se detectar, o mais cedo possível, crianças que apresentam tais dificuldades para que possam ser devidamente atendidas em suas necessidades educacionais e de acompanhamento fonoaudiológico.  

A criança que espelha letras tem problemas de lateralidade ou de dominância cerebral?

Tal preocupação não procede. Espelhar letras é muito comum nas crianças pequenas, principalmente quando começam a desenhar letras com mais precisão. Este comportamento é normal e, em geral, rapidamente tende a desaparecer quando a criança começa a compreender que, no caso da escrita, a posição e a direção do traçado das letras é importante e convencional.
Em outras situações da vida a criança para desenhar uma avião, por exemplo, não tem que se preocupar se o bico está para a direita, para a esquerda, para cima ou para baixo. Na vida real, ela aprendeu que a posição dos objetos não muda a identidade deles. É esse conhecimento que ela traz para o mundo da escrita. Porém, quando descobre que a
posição das letras pode determinar sua identidade, assim como quando a criança aprende que deve escrever começando próximo da margem esquerda e direcionar a escrito para a direita, tais espelhamentos começam a desaparecer. Poucas crianças manifestarão tal dificuldade de modo mais persistente.  

Qual a idade certa para alfabetizar?

Aprender a ler e escrever é uma aquisição cultural, o que significa que não há uma idade pré-determinada para que isso ocorra. A aprendizagem da linguagem escrita depende fortemente de fatores familiares, socioculturais e de oportunidades. Por esta razão, crianças que nascem e crescem em ambientes letrados, que vivem situações sistemáticas de interação com pessoas que lêem e escrevem, que experimentam situações envolvendo leitura e escrita voltadas para elas, que têm oportunidade de frequentar as séries da educação infantil, e quando estão muito motivadas, podem aprender a ler e escrever antes do início formal da alfabetização, por volta dos 6 ou 7 anos.
Porém, isto não é regra geral e uma minoria de crianças, em nosso meio, está apta a começar um processo de alfabetização antes dos 6 anos, mesmo quando condições favoráveis estão presentes. Forçar a alfabetização precocemente, como muitas vezes ocorre, pode ter o efeito contrário ao desejado, criando traumas, ansiedade e angústia nas crianças em relação à aprendizagem da leitura e da escrita. O mais importante, na etapa da educação infantil é garantir um bom desenvolvimento geral das crianças e, em particular, de suas habilidades comunicativas gerais.  

Qual letra deve ser usada na alfabetização?

A letra chamada “bastão”, de “imprensa” ou de “forma” maiúscula, é a mais apropriada por ser o tipo mais frequentemente encontrado nos escritos em geral e também pela facilidade de seu traçado.
As crianças devem aprender a traçar as letras maiúsculas e também a reconhecer as correspondentes minúsculas, o que lhes permitirá ler textos, como livros, pois eles vêm impressos com letras de imprensa maiúsculas e minúsculas. Na medida em que a criança comece a dominar com segurança o processo de alfabetização, a letra cursiva pode ser progressivamente introduzida uma vez que é a mais comumente usada para a escrita manual. 

 Devemos corrigir os erros de escrita ou esperar que as crianças construam hipóteses ortográficas espontaneamente?

Os erros ortográficos devem ser sistemática e adequadamente trabalhados durante todo o processo escolar uma vez que o risco de errar está sempre presente, mesmo em pessoas que têm bom domínio da linguagem escrita. Aguardar que a criança, por conta própria, construa as hipóteses ortográficas corretas tem se mostrado uma medida com resultados desfavoráveis, manifestados no grande número de erros que alunos, já em séries mais avançadas, ainda cometem quando escrevem. 

Quem lê bastante, escreve bem: Falso ou Verdadeiro?

Seria muito bom se somente a prática constante da leitura fosse suficiente para levar as crianças a dominar a ortografia em toda a sua complexidade. Curiosamente, muitas crianças que são leitoras ativas, apesar de toda a destreza que mostram nessa atividade, na hora em que vão escrever cometem muitos erros. A principal razão para este fato é que quem lê está fundamentalmente preocupado em compreender o significado do texto e não em analisar como as palavras estão escritas. Isso significa que bons leitores nem sempre dão atenção a detalhes ortográficos.
Não há dúvida quanto ao fato de que ler bastante pode ajudar no domínio da escrita, o que não dispensa um cuidado especial em preparar atividades especialmente voltadas para o ensino da ortografia, diretamente aplicadas ao ato de escrever. 

Posso deixar a criança ficar pronunciando os sons das palavras enquanto escrever ou ela tem que aprender a escrever sem falar?

Os sistemas de escrita alfabéticos envolvem relações entre letras e sons da fala. Em razão de tal associação, é muito comum que as crianças analisem a pronúncia das palavras, articulando sílaba por sílaba, lentamente, para poderem identificar os sons presentes na fala e daí decidir as letras que devem usar para escrever.
Essa é uma estratégia bastante natural e útil para as crianças que estão iniciando uma etapa alfabética. Dependendo do método de alfabetização, elas podem até mesmo ser incentivadas pela professora a usar tal procedimento. Na medida em que as crianças avançam na alfabetização, essa estratégia tende a diminuir gradativamente, tornando-se cada vez mais rara sua ocorrência. 

Quem deve fazer as correções dos erros das crianças: os professores ou os pais?

O objetivo de corrigir os erros que as crianças fazem quando escrevem é bastante claro: levá-las a aprimorar a arte de escrever bem. Porém, a forma geralmente adotada pelos adultos, quer sejam os pais ou professores, dificilmente leva aos resultados desejados. Nesta dinâmica, a criança escreve e alguém corrige, apontando os erros encontrados e, raramente, conseguindo explicar o porquê dos mesmos. Na realidade, a própria criança deve aprender a se corrigir. Escrever bem não significa escrever sem errar.
Todos cometem erros ao escrever, porém, aqueles que aprendem a monitorar ou controlar a própria escrita, sendo capazes de identificar aspectos ortográficos ou gramaticais que podem gerar erros, são os que mais bem escrevem. Portanto, mais do que corrigir pela criança, todos devem educá-la no sentido de que ela mesma desenvolva esse tipo de procedimento, de controle contínuo e atendo da produção escrita.  

O que é o método fônico?

O método ou abordagem fônica corresponde a um conjunto de procedimentos que têm como objetivo levar as crianças a compreender a natureza da escrita alfabética, mais precisamente que existem relações entre sons da fala, por um lado, e as letras correspondentes a tais sons, por outro. Em geral, as crianças são levadas a descobrir que as palavras faladas podem ser divididas em sílabas e que, dentro das sílabas existem unidades menores de sons, que são os chamados fonemas. Por exemplo, na palavra “barato”, temos os fonemas “b - a - r - a - t - o”, que podem ser pronunciados um a um.
A criança deve aprender a relacionar tais sons com as letras que podem representá-los na escrita. Podemos comparar a um jogo de quebra--cabeças: a criança deve aprender a desmontar as palavras, passando pelas sílabas até chegar aos fonemas, assim como deve aprender a montá-las fundindo os fonemas em sílabas e as sílabas em palavras. Dessa forma, quando vai ler uma palavra, as crianças transformam progressivamente letras nos sons correspondentes até formar uma palavra falada. Contrariamente, quando escrevem, as crianças devem pensar nos sons que a palavra falada possui e dai decidir qual a letra que usarão para representá-los.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Curso de Especialização (Lato Sensu) em Educação Infantil – 2ª Edição - pela UNESP: Pré-Inscrições Abertas!

Oportunidade maravilhosa de aprendizado em instituição inigualável, com corpo docente altamente qualificado!





OBJETIVO DA ESPECIALIZAÇÃO: Aprofundar os conhecimentos teóricos x práticos para contribuir para a construção de uma pedagogia da infância - como ser professor de crianças sem dar aulas - refletir concepções, implementação de práticas que considere a criança como sujeito histórico, social e cultural, questões sobre: gestão, Supervisão em instituições de educação infantil.

DURAÇÃO DO CURSO
Início: 03/2014
Término: 04/2016
Carga Horária: 510 horas
 
INVESTIMENTO: 21 (vinte e uma) mensalidades de R$ 200,00.

DIAS E HORÁRIOS: As aulas serão ministradas aos sábados (quinzenalmente) das 07h30 às 12h00 e das 13h30 às 18h00 na Faculdade de Ciências e tecnologia/UNESP - Campus de Presidente Prudente.

REGIME DIDÁTICO:  A carga horária será de 510 horas, sendo 390 horas em disciplinas e 120 horas para elaboração da monografia

PÚBLICO ALVO: Professores e Profissionais da área de Educação e graduados da comunidade interessados em se Especializar na área.

RELAÇÃO DAS DISCIPLINAS:
  • Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da criança de 0 a 5 anos
  • Atividades Lúdicas na Educação Infantil
  • Elaboração do Projeto Pedagógico e da Proposta Curricular para Educação Infantil
  • História da Infancia, políticas públicas em educação infantil e legislação.
  • Educação Inclusiva: a dimensão sociocultural e política na construção do projeto político pedagógico da Educação Infantil
  • Gestão Democrática da Instituição de Educação Infantil
  • Metodologia da pesquisa científica aplicada a Educação Infantil
  • Tópicos Especiais - Temas: "Professores de Educação Infantil: entre o feminino e o profissional" e "Musicalização Infantil - uma linguagem ao alcance de todos"
  • A relação Sociedade/Natureza na Educação Infantil
  • Psicomotricidade
  • O desenvolvimento de conceitos matemáticos e científicos na infância
  • Literatura e Letramento Infantil
  • Arte na Educação Infantil
CORPO DOCENTE, PROFESSORES DOUTORES:
Coordenador do Curso: Gilza Maria Zauhy Garms
Vice-Coordenador: Célia Maria Guimarães
 Alberto Albuquerque Gomes
Arilda Inês Miranda Ribeiro
Célia Maria Guimarães
Eliane Maria Vani Ortega
Elisa Tomoe Moriya Schlunzen
Fátima Aparecida Dias Gomes Marin
Gilza Maria Zauhy Garms
José Milton de Lima
Renata Junqueira de Souza
Tânia Cristina Bofi 

PRÉ INSCRIÇÃO: Período de Pré-Inscrição: 21/10/2013 a 29/11/2013 (será encerrado antes caso preencha o número de vagas).  Efetivação da Inscrição: 02 a 13/12/2013. Para realizar sua pré-inscrição clique aqui!

DOCUMENTO PARA INSCRIÇÃO: O candidato deverá entregar dentro do período de Efetivação da Inscrição, os documentos solicitados abaixo, que poderão ser enviados por correspondência (sedex) até no máximo dia 13/12/2013.
- Cópia da cédula de identidade
- Cópia do CPF
- Cópia do Certificado de Reservista
- Cópia do diploma ou do atestado de conclusão do curso superior
- Cópia do Histórico Escolar do curso superior
- Currículo Lattes
- 1 foto 3/4
- Comprovante da taxa de Inscrição: R$ 57,00 (a ser recolhida na Seção de Finanças da FCT/UNESP ou depositada em nome da UNESP - Conta Eventos, no Banco do Brasil, Ag. 6609-5, conta corrente n° 130787-8).

 

ENDEREÇO
Faculdade de Ciências e Tecnologia - UNESP - Departamento de Educação
Rua Roberto Simonsen, 305
Centro Educacional
CEP: 19060-900 - Presidente Prudente-SP


MAIORES INFORMAÇÕES NO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DA FCT UNESP
Telefone: (18)3229-5560
Email: posgrad@fct.unesp.br

Fonoaudiologia e Psicopedagogia: Debates e Parcerias possíveis.

Regulamentação da profissão "Psicopedagogia" e suas relações com a Fonoaudiologia, principalmente com a Fonoaudiologia Educacional.

 

Como fonoaudióloga educacional, já atuei em parceria com vários profissionais da Psicopedagogia. Algumas experiências foram enriquecedoras e maravilhosas, outras foram "arrepiantes".

Observo que, em grande parte, o que faz a diferença nos profissionais com quem atuo, são suas graduações. Algumas áreas de graduação tornam o exercício da especialização mais propenso ao respeito dos limites da atuação.

Gostaria de deixar claro meu respeito aos psicopedagogos, tanto quanto meu reconhecimento aos vossos valiosos saberes, práticas e intervenções. A regulamentação da Psicopedagogia é um direito da classe. Entretanto, os direitos de todos os outros profissionais já regulamentados que atuam na Educação devem ser, também, respeitados. 

Aos profissionais (fonoaudiólogos e/ou psicopedagogos clínicos/institucionais) que sabem exatamente no que e como atuar, os limites são claros e precisos; a relação interdisciplinar é apreciada e pacífica; as ciências são complementares e não rivalizam pois entende-se o prisma e o objetivo de cada qual dentro da Educação.

Autor de relatório favorável à proposta, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) apresentou emenda que inclui os fonoaudiólogos diplomados no grupo de profissionais de outras áreas que também poderão exercer a atividade de psicopedagogo. Conforme explicou, os fonoaudiólogos já atuam regularmente no campo da educação abordando transtornos de aprendizagem relacionados à comunicação oral e escrita.

Senador Randolfe Rodrigues apresentou emenda que permite aos fonoaudiólogos o exercício da atividade
Para recapitular e nortear debates futuros que serão propostos neste blog, trago dois momentos recentes e importantes: 

03/04/2013 - Audiência Pública que discutiu a regulamentação da Psicopedagogia como profissão:

O senador amapaense Randolfe Rodrigues, relator do PLC na Comissão, vai levar em conta os argumentos expostos de quem é a favor da regulamentação – caso da Associação Brasileira de Psicopedagogia – e dos que são contrários ao documento na forma como está apresentado, como os Conselhos Federais de Fonoaudiologia (CFFa) e o de Psicologia (CFP). O passo seguinte é se reunir com essas instituições para chegar a um consenso, sem que haja sobreposição de atividades profissionais.

A presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, explicou que a atividade lida com o processo da aprendizagem, levando em consideração a influência do meio, como a família, a escola e a sociedade. Ela informou que a psicopedagogia é praticada no país há 35 anos, tendo desenvolvido, ao longo do tempo, produção acadêmica e ferramentas próprias, e que há hoje mais de 150 mil psicopedagogos no Brasil. Quézia Bombonatto assegurou que a atuação do psicopedagogo não invade as áreas de atuação de outros profissionais e argumentou que a sociedade já legitimou a prática, que, segundo ela, já é regulamentada em vários países. 

Na ocasião, o representante do Conselho Federal de Psicologia na mesa, o conselheiro  Celso Tondin, apresentou um parecer conjunto do CFP,  da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (Abep) e da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee)  com argumentos contrários à aprovação do PL: “A psicopedagogia não é um  campo científico próprio, mas sim uma área de interface que pode ser exercida por psicólogas (os), fonoaudiólogas (os) e pedagogas (os), que tem em sua formação básica elementos para tal. Há profissionais qualificados que já atuam na área, portanto não há justificativa de ordem pública ou legal para a criação de outra profissão”, afirmou Celso Tondin. Segundo ele, o processo ensino-aprendizagem é  multideterminado e não pode se dar com a atuação de uma única profissão como pretendido pela PL em questão.  

Para a diretora da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (Abep), Alayde Digiovanni, também presente na mesa, o PL simplifica o processo de aprendizagem ao focar somente no indivíduo. “Isso culpabiliza o aluno em relação ao fracasso escolar, e o fracasso é produzido por uma série de questões sociais”, acredita.


Bianca Queiroga, presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, revelou que existem pessoas sem formação adequada e que, ainda assim, realizam atendimentos clínicos irregularmente. “Temos acompanhado profissionais que não têm uma graduação que lhes permitam ter atuação clínica, que fazem uma especialização em Psicopedagogia sem supervisão clínica e montam um consultório. Isso é um desserviço à saúde pública brasileira e precisa ser visto nesse projeto”, sugere.


A presidente do CFFa acredita que a Psicopedagogia é um tema transversal a outras áreas de estudo e de profissões já regulamentadas, como a própria Fonoaudiologia. “Não estamos defendendo que a Psicopedagogia é uma área específica da Fonoaudiologia; estamos falando da nossa preocupação como representantes de uma categoria profissional que transita nos campos da educação e da saúde”, diz Bianca Queiroga.

A presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, Bianca Queiroga, disse que sua categoria não apoia a aprovação do projeto da forma como ele está. Ela destacou o artigo 1º do texto, que autoriza a atuarem como psicopedagogos “os portadores de diploma de curso superior que já venham exercendo ou tenham exercido, comprovadamente, atividades profissionais de Psicopedagogia em entidade pública ou privada”, até a data de publicação da lei. Segundo ela, como não especifica curso superior, o projeto abre espaço para que pessoas sem formação na área de saúde possam realizar algumas atividades clínicas, como diagnosticar problemas e solicitar exames.  

“Creio que vai ser mais fácil encontrarmos os pontos em comum e fazer a mediação necessária. Mas considero fundamental a colocação que Bianca Queiroga, presidente do CFFa, fez em relação às ressalvas no que tange à área da saúde. É algo que teremos que pensar melhor”, afirma Randolfe Rodrigues. 

16/10/2013 - Análise da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) sobre o Projeto de Lei e alterações necessárias para aprovação.

"Nos termos do art. 102 do Regimento Interno do Senado Federal (RISF), compete à CE opinar a respeito de proposições que versem sobre normas gerais relativas à educação, formação e aperfeiçoamento de recursos humanos e outros assuntos correlatos. Assim, a regulamentação do exercício da atividade de Psicopedagogia encontra-se entre os temas regimentalmente atribuídos a este colegiado.

(...) O campo científico da Psicopedagogia se consolidou no País, levando a um incremento da produção de conhecimento específico e ao desenvolvimento de um arcabouço teórico próprio. Hoje, a formação dos psicopedagogos se dá, majoritariamente, em cursos de especialização em nível de pós-graduação, mas já começam a surgir cursos de graduação dedicados a esse campo do conhecimento, bem como cursos de mestrado e até de doutorado na área. (...)
 
Diante desse quadro, é bem-vinda a regulamentação do exercício da atividade de Psicopedagogia. Caracterizada como um campo de atuação interdisciplinar em Educação e Saúde, a Psicopedagogia requer que se delimitem parâmetros claros para a atuação dos profissionais, sem perder de vista as garantias do sigilo e da ética na conduta dos psicopedagogos. 


(...) Entendemos que a abordagem interdisciplinar da Psicopedagogia não invade as competências de outras profissões regulamentadas. Na verdade, ela se apoia nos conhecimentos de outras áreas para desenvolver seu próprio arcabouço conceitual, teórico e metodológico, assim como ocorre em diversos campos da ciência, que se utilizam de outros saberes de modo instrumental. Mas para que não restem dúvidas a esse respeito, oferecemos emenda visando a suprimir o inciso II do art. 4º do projeto, que inclui no rol de atividades e atribuições dos psicopedagogos a “realização de diagnóstico e intervenção psicopedagógica, mediante a utilização de instrumentos e técnicas próprios da Psicopedagogia”. 

Além disso, modificamos o caput do mesmo art. 4º, para explicitar que a atuação dos psicopedagogos se dá sem prejuízo do exercício de atividades e atribuições próprias de outros profissionais tanto da educação quanto da saúde. Essas alterações afastam eventuais alegações de sobreposição e invasão de competências de outras áreas. 

Outra modificação que propomos, considerando que boa parte dos fonoaudiólogos em exercício no País atua no campo da educação, abordando transtornos de aprendizagem relacionados à comunicação oral e escrita, é a inclusão dessa categoria no inciso II do art. 2º do projeto. Com isso, a atividade de Psicopedagogia passa a ser franqueada aos portadores de diploma em Psicologia, Pedagogia, Licenciatura ou Fonoaudiologia que se especializem na área.

Finalmente, fazemos um reparo à concepção, implícita no texto do projeto e explicitada no parecer emitido na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, de que a regulamentação de profissão somente é possível com a criação concomitante ou prévia de conselho profissional competente. 

(...) Essa concepção resultou na inserção de disposições no projeto que causam estranheza, tais como as referências à atuação de “órgãos competentes” de registro e fiscalização, em diversos dispositivos, e a determinação, no art. 10, de que a lei, se aprovada, entrará em vigor “na data de instituição do órgão fiscalizador da profissão de psicopedagogo”. A nosso ver, essa redação enseja problemas de juridicidade, pois o texto torna-se, na prática, completamente inócuo. Nada garante que venha a ser instituído o órgão competente, nem que a lei que o venha a instituir regulamente a profissão nos mesmos termos seguidos pelo PLC nº 31, de 2010.O dispositivo parece-nos, também, incompatível com o art. 2º, inciso III, do projeto, que pretende assegurar o exercício profissional aos portadores de qualquer diploma de curso superior que já tenham exercido ou venham exercendo atividades de psicopedagogia, “até a data de publicação desta Lei”. (...)

Por esses motivos, apresentamos emenda que corrige tais imperfeições e permite a imediata entrada em vigor da lei. Com essas alterações, julgamos que o PLC nº 31, de 2010, merece a acolhida deste colegiado."

Para leitura do relatório na íntegra, clique aqui.