Como, na realidade funciona a memória? E como relacionar os processos de armazenamento da memória com a utilização dos reflexos condicionados? E desses processos com a teoria do aprendizado?
Toda a aprendizagem põe em jogo um certo tipo de memória, isto é, de conservação e de armazenamento da experiência anterior. A conservação da experiência anterior é o meio através do qual se estabelece a noção de controle que nasce do exame da experiência anterior, em confronto com a experiência presente. Dessa forma, o indivíduo não necessita partir da primeira experiência para encontrar a resposta adequada; pelo contrário, ele soluciona a situação a partir de sua última experiência. Essa noção impede o processo arbitrário e espontâneo das tentativas e erros, que se baseia na freqüência de tentativas e na redução circunstancial de respostas incorretas até encontrar a resposta desejada.
A memória compõe-se de dois processos, um bioelétrico (nível nervoso) e outro bioquímico (nível sináptico), que se fundem na noção de engrama — unidade memorial de conservação da informação, consolidada e integrada pela ação dos ácidos nucleicos.
O estímulo, ao ser repetido, é integrado funcionalmente, produzindo, por esse efeito, facilitações sinápticas, que têm por função conservar a informação. Tais facilitações sinápticas, são de dois tipos: de curto termo e de longo termo.
Segundo a teoria de oscilação de Lachman, a amplitude das oscilações das ondas bioelétricas (ondas alfa) torna-se mais extensa durante a aprendizagem, provando de certo modo a flexibilidade das funções cognitivas.
Ao estabelecerem-se as interconexões estímulo-resposta, a transmissão do impulso processa-se sem resistências e sem perdas inúteis, daí a modificação da amplitude das ondas bioelétricas, provocando entre centros receptores, integradores e efetores, melhores vias de corpunicação neurológica.
A memória é a base do raciocínio. Ao "chamar" a informação, o cérebro está apto a combiná-la e a organizá-la. Não se combina o que não se conserva, daí o painel integrativo da memória, função indispensável à análise, seleção, conexão, síntese, formulação e regulação das informações necessárias à elaboração, planificação e execução de comportamentos.
A memória armazena e preserva a informação. Só depois da consolidação (Eysenck) se dá a compreensão. Só reconhecemos estímulos depois destes se encontrarem retidos. Esse dado é válido até mesmo para a aprendizagem falada. A sua aquisição requer que a informação auditiva seja armazenada e conservada, depois de ter sido compreendida (linguagem interior). Só a partir daqui a linguagem é integrada e formulada para ser posteriormente exprimida.
A memória associa, portanto, as funções de recepção com as funções de expressão, pois essas não se dão sem as funções de: armazenamento, compreensão, integração e formulação (rememorização). Esquecer é desaprender. Esquecer coisas é provavelmente o resultado de não tê-las organizado interiormente.
Está provado por investigações, que a dificuldade em adquirir novas recordações ou em se lembrar de nomes e acontecimentos interfere significativamente com a aprendizagem e com as suas transferências pró-ativas.
Da mesma forma, se sabe hoje que a memória envolve a função do hipocampo e do ciclo de Papez, para além do sistema reticulado. Quer dizer, a memoria é um sistema funcional e ínter-hemisférico, extremamente complexo, que afeta a aprendizagem, principalmente no que respeita à memória de curto tempo. Cada vez mais a memória tem de ser dinamicamente (e não mecanicamente) colocada em situação, pois parece estar provado que o seu treino facilita a aprendizagem.
Experiências de autores como Valverde (1967) e Hydén (1967), citados por Popper & Eccles, sugerem a teoria do aprendizado pela chamada "teoria de crescimento sináptico". Porém, parece que as experiências a
respeito do crescimento sináptico não supõem ser esse processo um fenômeno químico altamente específico, como o supôs Hydén (1967) em que, para cada memória, formar-se-ia uma macromolécula específica.
O substrato neuronal da memória parece estar ligado à evolução e crescimento das espinhas sinápticas, pelos quais, sinapses secundárias se formam à medida que os estímulos chegam da periferia ao SN, ativando
padrões específicos espaço-temporais e, se um padrão particular é repetido no córtex, mais efetivas se tornarão umas sinapses relativamente às outras.
Por essa teoria, as sinapses da "aprendizagem" teriam que ser ubiquitárias, o que parece impossível.. Daí, terem Szentagothai (1968) e Mass (1969) criticado a "teoria do crescimento sináptico" e terem suposto que
o "aprendizado sináptico" seria um acontecimento ligado dupla e dinamicamente, isto é, que a ativação de um tipo especial de sinapse proveria instruções para o crescimento de outras sinapses ativadas no mesmo dendrito — chamaram a isto de "teoria da conjunção do aprendizado" e parece que os experimentos de Miyashita (1975) com emprego de animais e a análise das fibras "musgosas" e "trepadeiras" do cerebelo comprovam-na.
Vistas assim algumas particularidades dos processos mais íntimos da aprendizagem, apresentamos, a seguir, na figura 3, de forma esquemática, todos os mecanismos desse computador que é o cérebro, na sua tarefa de aprendizagem. Além disso, ainda há o problema da dominância cerebral e as já clássicas experiências de Levy-Agresti e Sperry (cit. in Popper et col.10) comprovando funções diferentes dos dois hemisférios cerebrais.
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